Eu pensei que fosse palhaçada ou desculpas para algumas pessoas curtirem um pouco mais da preguiça. Mas não é. O corpo sente a diferença do fuso horário. Nesse momento em que eu escrevo sinto muito cansaço no meu corpo e uma leve dor de cabeça ao mesmo tempo não consigo dormir nem descansar já que são 15:32 da tarde. O medo de passar a noite sem piscar os olhos é grande. Até que essa última noite pude descansar bastante já que tivemos um operação “caça-rato” onde se fechou todas as possíveis saídas de onde o bicho poderia entrar como foi colocado um “jantar” para os nosso amigos (nada que um bom veneno para mudar tudo isso). Às 7 da manhã já estava de pé e comendo meu mata-bicho (ainda não me acostumei com o título que deram para o café da manhã). Até que estou me acostumando já a papa, o leite em pó tem ajudado bastante. Quero que vocês entendam que isso não é frescuramas é algo que todo o estrangeiro precisa passar. Semana que vem já estou me alimentando como um angolano, espero. Logo após a refeição o André foi ao centro da cidade para comprar um modem para internet e eu e Jessica seguimos para o trabalho com as crianças. Quando chegamos a Viviane estava em uma atividade com as crianças. Então evitamos de nos aproximar para que não as dispersassem. Aproveitamos o momento para conversar com um dos adolescentes que moram conosco. E apesar de viver na flor da adolescência ele parecia um livro de história ambulante. A sua paixão por essa matéria fez com que ele nos contasse detalhadamente tudo o que Angola viveu no seu tempo de guerra.As marcas ainda estão muito claras na vida de cada um deles. Mesmo que não saibam o que aconteceu no passado ele se torna presente em suas atitudes, na garra e na esperança de dias melhores. Cada pergunta que fazíamos parecia algo que o incentivava a falar com os olhos brilhantes que amava o país em que morava. Quando perguntei que profissão queria seguir ele me contou que o seu objetivo era ser engenheiro, mas seu sonho era ser presidente da nação. E quando perguntado sobre o porquê dessa escolha a resposta que veio foi simplismente essa: “Porque quero ajudar o meu povo”. Isso me fez pensar que o que nós faz crescermos na vida não é o dinheiro mas persistir nos sonhos que Deus nos dá. Quanto de nós já desistimos por que se cansou ou porque simplismente alguém lhe disse que não era possível? A primeira lição que aprendi é que não importa aonde estou ou que situação, o que me faz vencendo é insistir. Para finalizar a conversa aprendemos a buscar água no poço (parece simples, mas nem tanto). O fato de buscarmos água no poço e que tanto a luz quanto a água são financiadas pelos próprios moradores. Então teremos que se alimentar e tomar banho com a água do poço até amanhã pois é o dia que o caminhão pipa vem para a comunidade trazer água (e é um preço muito caro).
Visto que as atividades tinham encerrado, aproveitamos o momento da recreação para falar com as crianças. Quando nos viram fizeram uma festa, nos abração e voltaram a tocar em nós como se fóssemos a lady gaga e o Justin Bieber de Angola. Estavam tão animadas que eu não conseguia ficar em pé. Eram abraços para todos os lados. Eu não me sentia que estava me tocando. Como ontem foram os pés que me tocaram, hoje foi as mãos. Eles me pediam para que eu abrisse e olhavam atentamente como se fossem um cigano lendo o futuro nas palmas das mãos. Quando eu perguntei o motivo pelo qual queria ver a minha mão eles me responderam : “sangue”. E mostraram as suas mãos que eram amarelas. Quem tem a cor clara, geralmente tem as palmas vermelhas e as veias amostra. Outra coisa que parecia ser inédito para eles. Um deles virou para mim e disse: Você é bonito porque é mulato. Eu sou feio porque sou negro como um carvão”. No mesmo momento lembrei a ele a música que eles amam cantar: “Obâ, Jesus me ama. Não importa a aparência o que importa é o coração”. Nesse momento falei para ele que eu era bonito por causa do meu coração e não pela minha cor. Os seus olhos pareciam soltar do rosto desse menino tão pequeno e que já tinha a vida marcada pelo preconceito. As palavras fazem diferença na vida de outra pessoa.
No momento em que estávamos cantando e dançando (eles me ensinam as músicas que eu não sei cantar, inclusive os passos). E quando terminavam voltavam a me abraçar. Enquanto me apertavam eu pensava: Não só elas precisam de amor. Eu também. Eu não só estou aqui por causa delas, mas elas estão aqui por minha causa também. Porque todos nós somos carentes e só nos completaremos quando entendermos o princípio bíblico que diz: “Ame ao Senhor de todo o coração e o próximo como a ti mesmo”.
Quantas pessoas me passaram pela cabeça: Gabriel, Beatriz, meus pais, Mariana, Jonathas, Raphael, D. Maria de Lourdes, Ricardo e tantos outros que poderiam ter a mesma oportunidade que eu estou tendo. Eu não sei o que fazer, mas tenho pedido para Deus o que fazer por eles. No que posso me sacrificar por tantas vidas marcadas? Eu não sei o que nós, brasileiro poderemos fazer para ajudar os nossos irmãos que estão próximos de nós?
Essa resposta só quem poderá me responder é Deus. E eu sei que existe uma resposta para isso: basta descobrir.
Um comentário:
Oiiiiiiiii Thiago, me emoçionei muito com suas palavras, sei que está sendo uma experiência íncrivel,imagino como vcs estão vendo tudo por aí, mas fico feliz que estão recebendo muito amor, e sei q vcs tem muito pra dar tbem.Estamos aqui orando por vcs.
Mande beijos pra minha sobrinha linda Jéssica, pro André e todos aí.
Da tia que ama muito vcs
Miriam Krebs
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