Desculpe se com essa palavra irei te decepcionar, mas eu tenho que falar, escrever e deixar que isso se torne claro: eu não sou perfeito. Tenho erros e falhas. Me iro, sou egoísta de vez em quando, não tenho paciência em alguns momentos, me irrito com as pessoas que estão a minha volta. Sim, mesmo estando em Angola, convivendo em um lar cristão, freqüentando escola bíblica desde a minha infância ainda sim continuo falho. E mesmo que trabalhe nas áreas que estão deficientes na minha vida outras surgirão e terei que novamente passar pelo vale sombrio da aprendizagem. E não gosto quando me falam que sou santo porque em algum lugar do meu passado eu nunca me droguei, fiz sexo loucamente com diversas mulheres ou usurpei muito dinheiro de quem merecia. Eu não fiz nada disso, mas isso não me exime de estar no pódio dos pecadores. Sou pecador e em certos momentos sinto uma ponta de orgulho dessa situação. Justamente porque na hora em que me chego a Deus ele sempre vem com o espelho da graça e me mostra quem sou: de que sou digno de sua graça, que minha obras não me salvam, que a imagem de santinho não me levará ao céu. O espelho da graça me mostra que a cada manhã preciso de Deus, da sua misericórdia e cada passo do meu viver preciso da sua orientação na estrada da vida que está cheia de minas onde um passo em falso pode custar a minha alma.
No último mês ganhei do meu irmão um livro chamado “ortodoxia” do escritor inglês G.K Chesterton. Uma obra por vezes até difícil de se entender por ser complexa demais. Em uma das experiências desse autor um grande jornal da época decidiu mandar a seguinte pergunta a grandes intelectuais da sociedade: “Qual o problema do mundo?”. Enquanto muitos se espelhavam na cientificidade da sua mente e criaram muitas linhas para explicar os possíveis problemas do mundo, Chesterton apenas respondeu: “eu”. O problema de um mundo caótico sempre esteve no homem e por um outro lado a solução se encontra em um homem: Jesus. Se por um homem o pecado entrou por um homem essa graça nos alcançou.
Enquanto muitos de nós queremos culpar o próximo com as nossas mãos abarrotadas de tantas pedras, Jesus quer nos ensinar a olhar para nós mesmos e ver o quanto somos sujos e nada podemos. A adúltera não negou a sua condição, quando todos foram embora, nem muito menos se justificou. O seu silêncio denunciava a sua condição. Do outro lado da linha que separava a legalidade da graça os homens cheios de si saíram sem nada fazer e ainda envergonhados da sua situação. Quem assumiu o seu pecado encontrou a graça.
Eu lembro que quando a televisão de alta definição chegou ao Brasil as grandes redes televisivas tiveram que mudar a sua maneira de gravação já que a alta qualidade denunciaria o que era falso de objetos como as imperfeições dos rostos dos atores. Sempre ouvimos na benção apostólica “Que o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti”. Muitas das vezes o pecado usa uma maquiagem criando uma condição de quem não somos. E quando fazemos essa oração a alta definição de Deus nos mostra todas as nossa imperfeições nos levando a uma condição de ser igual a ele. E como se Deus comparasse a sua perfeição com a nossa e fizesse a seguinte pergunta: “O meu desejo é que você fique como eu. Será que você pode ser como eu quero?”
Sou pecador e não nego a minha condição porque sei que existe um Deus que me transforma.
Até amanhã.
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