sábado, 16 de outubro de 2010

Uma benguela desconhecida

O raio do fuso horário continua a me atingir. Essa noite fiquei mais acordado do que dormindo. Eu não sei o que foi, de qualquer forma coloco a culpa no fuso horário. Se algo não der certo é só colocar a culpa na diferença de horário. O Marcos por exemplo é um. Apesar de morar aqui há quatro meses qualquer cansaço ou dor de cabeça ele põe a culpa no fuso horário.
Hoje fizemos uma longa caminhada diversas motos e vans para nós levar a outra parte da cidade conhecida como Benguela. Sobe morro, desce morro, pega moto, desce da moto, pega um carro (táxi), entra em uma van em um lugar aonde pessoas passam e gritam freneticamente e caminha por um bom pedaço para chegar a uma outra base da JOCUM.
Antes de falar sobre o que aconteceu lá faço uma pausa para falar sobre a situação das mulheres angolanas. São mulheres lindas e que não se intimidam em trabalhar e trazer o seu alimento para casa como vi na grande praça. Aliás, boa parte dos ambulantes da cidade são elas que dominam. Muitas deles trabalham e são obrigadas a levar o alimento para casa para alimentar tanto o filho como o marido. Aqui ainda existe um pouco de machismo de homens que esperam que elas tirem os seus sapatos e os sirvam a janta e de quebra ainda cuidem dos filhos. E se não fazem muito bem, apanham. Isso é normal aqui assim como ter muitos filhos. Segundo a cultura angolana uma mulher nasce com diversos fetos no seu ventre. E ela simplesmente tem que por todos “para fora”, ou seja, não existe a palavra anticoncepcional, planejamento familiar, nem se fala. E muitas delas seguem essa “regra” porque o número de mortes é grande.Esta tem sido a realidade de muitas mulheres que tem lutado para conseguirem estudar e até mesmo conseguirem um lugar na sociedade.
Voltando, chegamos a base. Um lugar com muitas árvores que no passado era habitado por antigos combatentes da guerra e que nos final dela foi doada para JOCUM desenvolver projetos humanitários. Ela é dirigida por dois brasileiros que perderam completamente o sotaque brasileiro. Um deles foi muito aberto a nos contar os trabalhos desenvolvidos com a comunidade local. Grande parte deles é voltado para educação com a missão de levar crianças e adultos a lerem. Foi triste ver que um lugar tão bonito como aquele e com uma estrutura espetacular estava necessitando de voluntários. Esse líder não hesitou em nos convidar mais de três vezes para integrarmos ao grupo de voluntários. Demos boas risadas com eles principalmente eu por ele ser carioca( agora que eu descobrir que encontrar um outro carioca gera muitos assuntos eu não quero outra coisa).
Na volta, após nos despedimos de todos fomos ao supermercado que não se difere nada dos supermercados brasileiros e retornamos para via dolorosa dos muitos automóveis que tínhamos que pegar. Quando estávamos na moto um dos muitos moradores que acenavam para nós um deles falou para a Viviane “chinesa” (ela disse depois que muitos moradores a confundem com um chinesa) logo ela se virou para trás e disse: “Não! Sou Brasileira!” Ele rapidamente retrucou: “Lula da Silva”. Eu me perguntei sarcasticamente: “ Será que o Angolanos estão apoiando a candidatura de Dilma?
Para finalizar eu queria que você que está me acompanhado junto comigo pensasse: “O que posso fazer por angola?” Acabei de ler um livro chamado “ a terceira xícara de chá” que conta a história de um alpinista que após uma subida frustrante para o k12 foi parar em uma aldeia de afegãos. Como retribuição a tanto amor dado a ele este perguntou o que poderia fazer para ajudá-los. O líder respondeu: “Monte uma escola”. Após algumas tentativas falhas de conseguir verbas para conseguir tal feito esse americano conseguiu uma ajuda de 20 mil dólares o que foi suficiente para construir um escola. O que era para ser uma virou mais de 35 em todo o Afeganistão, hoje considerado um dos lugares mais perigosos do mundo, principalmente para americanos. Tenho certeza que quando ele falecer muitos choraram e se lembraram de um homem que mudou o mundo.
Você, eu, o que temos feito para mudar o mundo?

Nenhum comentário: