terça-feira, 30 de novembro de 2010

30/11/10 O que fazer?

- Fatô, o que você comeu hoje no café da manhã?

- Pão com chá

...

- Salomão, o que você comeu hoje no café da manhã?

- Funji com peixe

...

- Ezequiel, o que você comeu hoje no café da manhã?

- eu chupei açúcar

-Açúcar? Mas por que você comeu açúcar?

- Porque não tinha nada para comer hoje em casa.



Essa foi a resposta de um menino de seis anos de idade que faz parte do projeto. Depois de uma longa pausa sem ir ao projeto hoje aproveitamos o dia que estava um pouco livre para passar um tempo com eles. Depois de quase duas semanas de muita agitação para a festa de sexta-feira finalmente pudemos rever a todos. Na verdade ainda temos algumas coisas que faltam, mas hoje Jessica e André não acordaram muito bem. Estavam com dor de barriga. O André estava bem pior, mas agora já está melhor, passou a noite toda com febre.

Pela manhã foi momento de estar com as crianças. Deu para matar as saudades. Eles pularam em cima de mim e da Jessica com toda a força. Pela manhã só cantamos algumas músicas com eles o resto do tempo deixamos para eles brincarem ou então ficarem em cima de nós.

À tarde o Marcos nos sugeriu que estivéssemos um bate papo com eles, um momento de distração. Que dividíssemos em três grupos e cada um de nós ficaria responsável por um grupo, mas como o André não estava bem, acabou ficando em dois grupos. No fim, a Jessica também se sentiu mal e teve que descer e eu permaneci com eles sozinhos. Como levamos chicletes e pirulitos ficou fácil de controlar a turma. Falei um pouco do período que ficamos com eles e a missão que Deus nos deu de vir a esse país. Desde manhã já estamos preparando o coração deles para a nossa despedida, na verdade, preparando os nossos corações. A Jessica disse que quase chorou quando disse que na semana que vem voltaríamos para o Brasil e todos em uma só voz disseram: “não vai”. Toda despedida tem o seu preço.

No retorno para casa perguntei novamente ao Ezequiel o que ele comeria em casa e ele me respondeu que já estava de barriga cheia. Indaguei novamente e ele me respondeu com os olhos mirando o chão: “não tem comida na minha casa” e eu nessa hora não sabia o que responder, sem ação alguma, sem nenhum plano em mente, simplesmente um ser sem atuação alguma em frente a uma criança que não tem alimento na sua mesa. Aquilo para mim foi de cortar o coração. Depois de chegar em casa fiquei me culpando e me perguntando: “Será que sou um ser de coração frio que não consigo fazer nada por um menino?”. Questão que faremos em nossas vidas e muitas vezes faremos com as mãos atadas, com a mente esteria e com o coração seco. No fim da linha onde a vida me pergunta: “o que você vai fazer?”. E mesmo diante disso me perguntei que mesmo ajudando a um existem outros que estão na mesma situação. Como diz madre Tereza de Calcutá: “uma gota no oceano faz a diferença”. É claro que todos queremos ser um pingo de um imenso mar, mas por vezes é difícil entender que eu posso fazer diferença no mundo.

Sempre quando escrevo o fim fica por minha conta. Nesse caso eu quero deixar para você responde, o que fazer diante de tudo isso?

Em casos como esse, o que você faz?

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