domingo, 30 de maio de 2010

Há mais ou menos dois meses atrás eu e um grupo de amigos participamos de uma simulação da igreja perseguida chamada “Xtreme mission”. Foram três dias em uma floresta da cidade de Ponta grossa, onde enfrentamos frio de cinco graus. Nada de conforto, boa comida ou descanso. Foram dias em que realmente tivemos que viver sob os limites do nosso corpo. Ali tivemos a oportunidade de saber um pouco como é o dia-a-dia daquele que se arriscam a pregar o evangelho.
No último dia para chegar ao nosso último ponto tivemos que caminhar por quilômetros. Além de cansados, com peso nas costas por conta das nossas mochilas, tivemos que enfrentar a dor da fome. Éramos ao todo vinte e cinco pessoas que estavam vivendo a mesma realidade. No momento em que estávamos entrando em um vilarejo no meio do caminho encontramos uma goiabeira carregada de frutos que davam água na boca só de contemplar. Olhamos para um lado, olhamos para o outro e a cena era inacreditável: aquela árvore não tinha dono. Ela pertencia a quem passasse; quem quisesse se deliciar era só levantar as mãos, colher um fruto e se deleitar. A árvore estava carregada de frutos. Era tanta goiaba que todos puderam se saciar e ter forças para seguir o longo caminho que tínhamos pela frente. Era tanto fruto que deu o suficiente para nós e ainda sobrou para os futuros peregrinos.
Essa cena reflete o que nós como cristãos devemos ser. Se somos seguidores de Cristo devemos dar frutos: “Pelos seus frutos os conhecereis”. As nossas obras devem saciar a sede e a fome de um mundo que se encontra vazio. Devemos ser como a árvore que encontramos que não precisava de permissão para se colher. Qualquer pessoa que passasse tinha livre acesso. Hoje a nossa religiosidade estabelece limites e exibimos para todos as placas: propriedade particular, não toque! Escolhemos quem irá se alimentar.
O espírito de servo se esquece de impor limites.
É entrega total.
É alimentar e gerar mais frutos.
Sabendo que somos simples peregrinos nessa terra...

terça-feira, 25 de maio de 2010

Não quero pedras em minhas mãos
elas me ferem e me fazem pesar
machucam
o inocente alheio
Não quero ser escuridão
Quero ser poesia
Estar na maestria
Deixar os meus olhos brilharem
Sob o sol que aquece

Não quero estar preso
voar, cantar, gritar
Sem ter a vergonha
De me encantar

Missionário não é profissão!

Estamos em uma sociedade onde todas as instituições de influencia procuram preparar o público para a realidade do mercado de trabalho. Logo o estudar significa plano de carreira. Para o mundo não existe outro caminho se não for por esse.
Estar em uma base missionária não deixa de ser uma carreira, mas uma carreira que vai contra o movimento trabalhista que o mundo tem pregado. O profissional busca lucro, o missionário crescimento: crescimento do Reino de Deus, ampliar o evangelho a todas as nações.
Inserido no contexto missionário como estou, vejo que nem todo mundo vive sob essa mesma perspectiva. Muitos vão para essa vida porque em suas vidas “seculares” se frustraram e na falta de alternativas seguem tentam conquistar a vida de outra maneira. Outros são missionário no momento de suas atividades e quando esta acabam você não faz diferença entre o santo e o profano.
Eu não quero essa vida!
É fato que isso todo dia me seduz e que muitas vezes sou levado a crer que isso é uma verdade:
Não é isso que quero
Ser missionário é integral, vinte quatro horas por dia
Sem feriado
sem fins de semana
No ônibus, em casa, na escola
Fora das quatro paredes da igreja.
Ser missionário é ter um estilo de vida. É escolha e não obrigação. E sentir o mesmo prazer que Deus sente.
Liberdade.
Como é bom sentir o cheiro da liberdade
ouvir o som das correntes que se soltam
pode respirar
cantar sem me enganar
Viver.
Reencontrar.
Contudo me encontro aqui.
Preso entre correntes.
Nos grilhões do meu ser...
Jesus, seja a minha libertação
Minha canção
Meu respirar
As músicas eternizam os nossos momentos. Não importa para quem foi feito ou se ela se encaixa no santo ou no profano. Ela nos leva a um lugar chamado lembrança, lá onde podemos dançar e encostar a nossa cabeça sobre os ombros da pessoa amada.
Essa semana estava lembrando uma canção onde o trecho dizia: “estou voltando para casa”. A melodia me lembra da minha amiga chamada Ester. Uma menina linda que tinha oito anos, o rosto de uma criança, os belos como cachos, a inspiração vinda do sol. Em julho do ano passado ela se foi em um acidente de automóvel. A dor tomou conta de todos os que a conheciam, a saudade invadia e expele em cada poro de quem viveu com essa linda menina.
A música que foi gravada por uma cantora que morreu de overdose e escrita por um cantor que faleceu de Aids foi esquecida. A canção se esvaziou e incorporou outro sentido. Na minha interpretação a Ester estava voltando para a casa que Deus preparou especialmente para ela.
Feita para mim e para você.
A casa dos nossos sonhos.
A incorruptível.
Foi para lá que a linda menina se foi. Deixou a todos com o vazio, um vácuo que só pode ser preenchido pelo eterno. Até hoje eu não entendo porque Deus a levou. Visto que tão cedo, tão jovem. Perguntas e vazios que só serão supridas quando eu viver a eternidade, quando eu estarei em uma nova terra, uma nova casa, um novo governo. Onde na porta dessa nova cidade o próprio Deus estará me esperando e dizendo: “Seja bem vindo ao seu novo lar”.
Vivo sob extremos: um dia nas alturas da felicidade, outros na escuridão da tristeza. Estar em outro lugar me faz viver entre os altos e baixos. Em nenhum dia consegui viver uma vida normal, como eu tinha. Sinto falta da minha casa ao mesmo tempo não sinto falta das coisas que eu fazia antes: apenas quero o aconchego do meu lar, o carinho da minha mãe, as mãos afáveis do meu pai sobre os meus cabelos e as intermináveis gargalhadas dos meus irmãos. Estar aqui não é fácil, é viver na ameaça de que o vulcão a qualquer momento pode estourar e eu estarei lá, no centro.
apesar de todas essas intempéries eu vivo um momento único de me apegar a Deus. Nas opções que tenho no momento se resume em confiar ou enlouquecer. Elias foi para uma caverna, Davi se refugiou na caverna de Adulão, Pedro fugiu depois do canto do galo e todos eles na solidão encontraram Deus. Viveram os extremos um dia alegria o outro a tristeza suprema, mas em todas essas situações encontraram o equilíbrio que se encontra no Pai.